Consultoria Agropecuária e Internet

Verminose na Região Sul

Dra. Thais Pires Lopa


Relação Parasito-hospedeiro
Alguns aspectos sobre o ciclo de vida dos parasitos de bovinos

Incidência de Larvas Infectantes no Pasto

Características do Nematóide Ostertagia
Diagnóstico
Controle
Sugestão de Programa Estratégico de Controle das Verminoses na Região Sul de Acordo com a Categoria Animal


   

"Na maioria das propriedades da região sul o sistema de produção é extensivo com pressão de pastoreio durante todo o ano, ou seja pastoreio contínuo. Isso se traduz em animais  expostos à cargas parasitárias sempre presentes em maior ou menor quantidade dependendo da época do ano, das alterações climáticas, do estado fisiológico dos animais e se a propriedade possui ou não algum programa de controle de verminoses."

 O manejo ideal de descanso periódico das invernadas, com a retirada dos animais por algum tempo para “limpar” o campo para muitos é inviável.

Apesar de quase não apresentar sintomas clínicos essa enfermidade causa prejuízos econômicos enormes com queda da produtividade. As perdas  na produção, traduzidas em menos quilos de carne e em menos litros de leite, ficam mais evidentes quando há um controle maior na propriedade. Com o acompanhamento do ganho e rendimento  desses animais no decorrer de sua vida, observamos nos que tem verminose a ação espoliativa  dos parasitos no trato gastrointestinal promovendo uma redução no aproveitamento dos alimentos.

 O animal jovem é a categoria mais prejudicada com a verminose  pelo atraso que ocorre no desenvolvimento causando mais tarde queda no seu desempenho.

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RELAÇÃO PARASITO-HOSPEDEIRO

 

A relação de parasitismo existe quando um organismo se aproveita do outro para suprir suas necessidades. O parasita poderia prejudicar o hospedeiro a ponto de matá-lo se não houvesse controle. Isso acabaria com a relação de parasitismo, então o parasita prefere que o hospedeiro sobreviva tendo apenas sua eficiência diminuída.

Parasitos são normalmente hospedeiros específicos, e o bovino serve como hospedeiro para várias espécies de parasitos. A maior ameaça a saúde e performance dos bovinos é provocada pelos nematóides, especialmente aqueles que parasitam o tubo gastrointestinal ( Ostertagia, Haemonchus, Bunostomun, Oesophagostomun ).

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ALGUNS ASPECTOS SOBRE O CICLO DE VIDA DOS PARASITOS DE BOVINOS

 

A maioria dos parasitos internos dos bovinos estão no abomaso ou intestino delgado e possuem um ciclo de vida simples, direto e rápido.

No interior do tubo digestivo ou nos pulmões vivem os vermes adultos: machos e fêmeas produzem milhares de ovos que são lançados no meio ambiente. Os ovos se desenvolvem e chegam a larvas infectantes com maior ou menor velocidade de acordo com as condições climáticas do momento, ficando disponíveis na pastagem.

 Os bovinos ao  se alimentarem  ingerem essas larvas infectantes que penetram na mucosa do tubo digestivo, ali elas irão se desenvolver  dando continuidade ao ciclo ou migrar para outro local dependendo da espécie do parasito.

O revestimento estomacal e intestinal, ou mucosa, torna-se irritado e inflamado pela migração das larvas. Por essa razão, os bovinos não conseguem aproveitar direito os nutrientes dos alimentos ingeridos, pois ocorre um decréscimo na capacidade digestiva e  absorvente  da superfície da mucosa. A Ostertagia é um dos parasitos internos mais comuns dos bovinos, causando severos sintomas e grandes perdas na produtividade.

 

No outono e na primavera o ciclo de vida desses parasitos gastrointestinais é mais rápido, levando aproximadamente  uma semana para os ovos chegarem ao estágio de larva infectante (L³). Diferente do inverno e do período seco, que é desfavorável, demorando de 6-8 semanas, no pasto, para se tornar infectante.

As larvas na matéria fecal podem sobreviver por mais de 18 meses e no pasto em torno de 06 meses. Essa informação é importante para fazer um controle parasitário eficiente com efeito imediato visando também atingir o próximo ciclo.

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Incidência de Larvas Infectantes no Pasto

                A disponibilidade de larvas infectantes nas pastagens está diretamente relacionada com os fatores climáticos de cada região. O período de maior incidência de larvas é diferente de uma região com clima tropical para uma região de clima temperado, onde as estações do ano são mais definidas, como aqui no sul.

Nos meses mais secos do ano, quando o ambiente é desfavorável , as larvas infectantes ocorrem em menor quantidade (estão inibidas) e no período mais chuvoso e de clima ameno o ciclo de vida dos parasitos é mais rápido e há o aumento da carga parasitária nas pastagens e de vermes adultos nos bovinos.          

     Existem alguns fatores que favorecem o desenvolvimento e a sobrevivência das larvas nas pastagens: 

- do ambiente: umidade, chuva, tempo nublado e fresco.

-  dos pastos: escassos, curtos, muito pastoreado (alta carga parasitária), pobres e aguacentos.

-  do solo: compactos, mal drenados e baixos.

-  dos animais: os jovens são mais susceptíveis e os animais debilitados por stress, doenças ou por má nutrição. 

Considerando o nosso tipo de clima, verificamos no gráfico abaixo a disponibilidade das larvas infectantes no pasto de acordo com a época do ano. 

 O gráfico mostra que é no período do outono e da primavera que os bovinos ficam mais susceptíveis as infestações, pois as larvas ficam mais viáveis  nas pastagens. Esse momento também é ideal para que as larvas que estão inibidas no interior da mucosa do tubo  digestivo dos animais saiam para o lúmen para se desenvolverem até a fase adulta.. Essa migração pode ser gradual, causando leve irritação, ou muito rápida causando severos sintomas principalmente em animais jovens.

Com isso devemos ter em mente que os animais não devem chegar neste período com uma carga parasitária elevada  para que o quadro de verminose não se agrave mais.

Observando esses padrões poderemos implantar estratégias de controle de acordo com o clima da nossa região associado com a melhoria dos outros três fatores  acima citados (solo,pasto e animais). Se as aplicações estratégicas dos vermífugos forem  feitas na época apropriada e a qualidade das drogas antihelminticas utilizadas for boa , a eficiência desse sistema de controle irá se refletir em parte no próximo ano. Já o inverso acarretará em resultados ruins durante o ano corrente e conseqüências piores no próximo.

As infestações parasitárias podem aumentar ano pós ano, aumentando os prejuízos da produção. Assim é fundamental usar produtos de boa qualidade com assessoria técnica e no momento oportuno. 

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Características do Nematóide Ostertagia

A Ostertagia,  como foi dito anteriormente, um dos nematóides  mais comuns  que habita o abomaso dos bovinos causando severos sintomas com grandes perdas econômicas, apresenta um fenômeno genético estacional chamado Hipobiose. Não se conhece bem como ocorre, mas é a capacidade que o parasitos interno tem de inibir seu desenvolvimento frente uma época adversa que ocorre ano pós ano, freando temporariamente seu ciclo de vida por 3-5 meses.

O quarto estágio no ciclo de vida da Ostertagia é diferente. A larva de 4° estágio é capaz de permanecer nas glândulas do estômago por mais de 6 meses.  Essa habilidade, denominada hipobiose, de  inibir seu desenvolvimento freando seu ciclo biológico durante 3-5 meses para posteriormente completar seu desenvolvimento, deixando as glândulas estomacais, parece ser controlada pelas condições climáticas ou fatores nutricionais. Essa característica funciona como um mecanismo de defesa  do parasito ante uma época adversa que se repete ano a ano.

 

Aqui no sul e no pampa argentino  essa fenômeno é produzido pela Ostertagia ostertagi . Seu ciclo de vida é direto. O desenvolvimento dos ovos até o estágio L³ no meio ambiente depende da temperatura e umidade (10-14 dias). Quando o verão é muito quente e seco muitas não sobrevivem.

A larva L³, após ser ingerida, leva de 1-3 dias para penetrar na mucosa gástrica e passar ao 4º estágio. Esse estágio é dividido em três tipos:

Tipo 1  - O  desenvolvimento do 4º estágio até a fêmea adulta produtora de ovos se dá em 18-21 dias. Primeiro o 4º estágio larvar passa ao 5° estágio no interior das glândulas (1-2 mm de comprimento) quando então emerge para a luz do tubo estomacal.  Ocorre quando um grande número de larvas infectantes são ingeridas num curto período, completando rapidamente seu ciclo e tornando-se adulta ( do outono-inverno).

Os sinais clínicos são caracterizados por severa diarréia  esverdeada , edema intermandibular e rápida perda de peso. 

Pré-Tipo 2 / Hipobiose - Acontece quando o 4º estágio larvar se esconde profundamente na mucosa intestinal e permanece inibida  Pode haver centenas de larvas inibidas nas paredes do estômago. Quando as condições climáticas ficam ideais, as larvas deixam o estômago e se tornam adultas ( de primavera-verão).

                Esse tipo não produz normalmente grandes agressões ou sintomas quando penetram na mucosa.

Tipo 2 - Ocorre quando um grande número de larvas de 5º estágio inibidas saem ao mesmo tempo do interior da mucosa, causando severos sintomas.

                Quando essa migração é gradual, os sintomas são semelhantes ao Tipo 1. Entretanto se as condições climáticas adversas melhorarem repentinamente, poderá ocorrer a liberação de todas as formas inibidas causando graves sintomas e alta mortalidade (no fim do verão).

Normalmente a Ostertagia ocorre em conjunto com outros vermes gastrointestinais que causam sintomas similares. O Haemonchus, tanto a larva como a forma adulta, se alimenta de sangue no estômago. Um pequeno número pode causar sintomas agudos com perdas de proteina e sangue. Severa anemia e mortes repentinas poderão ocorrer.     

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DIAGNÓSTICO

                Diagnóstico clínico é feito pelo histórico dos sintomas tendo como referência a época em que estão ocorrendo e o estado fisiológico dos animais. O diagnóstico pode ser confirmado pelo exame de fezes com a contagem dos ovos (OPG) ou cultura dos parasitos.

                Porcentagem de ovos por gramas de fezes é o valor numérico usado na contagem dos ovos. Essa contagem é utilizada principalmente para o complexo Haemonchus, Ostertagia e Trichostrongylus é baixo, médio ou alto dependendo da OPG.

                A OPG nem sempre é uma indicação acurada para o número de vermes adultos presentes. A contagem pode ser negativa ou baixa na presença de grande quantidade de formas imaturas, e eventualmente quando muitas formas adultas estão presentes a contagem também pode ser baixa. A imunidade produzida pelo bovino adulto ou um tratamento prévio pode diminuir a produção de ovos.

                O exame pós morte deve ser feito quando a causa é desconhecida. O conteúdo intestinal pode ser examinado e alguns vermes, como o Haemonchus, podem ser vistos mais facilmente, mas a Ostertagia ou Trichostrongylus é mais difícil. Outras doenças e condições podem complicar o caso e o exame pós morte poderá ser determinante. A salmonelose, a diarréia viral e os distúrbios digestivos possuem sintomas semelhantes.

                Animais que morreram por ação da Ostertagia  Tipo 2 precisam ser diagnosticados, pois não são todos os antihelminticos que possuem ação sobre essa forma. A mucosa gástrica ao exame pós morte  apresenta nódulos característicos.

 

 Fig 1: Aspecto nodular da mucosa gástrica (post mortem)  por ação da Ostertagia 

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CONTROLE

Para se ter um tratamento efetivo é preciso controlar os helmintos nos animais e controlar o número de formas de vida livre na pastagem.

Controle no Pasto

                Precisa ser direcionado para controlar o estágio de vida livre dos parasitos internos dos bovinos.

 Pastagem “limpa” é o termo usado para designar pastagens com pouca ou nenhuma forma de vida livre. Como exemplo temos os campos não pastoreados por um longo período ou pastos usados para culturas de grãos.

                Como o nosso sistema  de pastoreio é contínuo o controle é mais complexo. Devemos procura combater os fatores que favorecem o aumento e a sobrevivência das formas livres no pasto.

Controle nos Animais

                O controle deve ser sobre todos os estágios do ciclo dos vermes que ocorram no interior do organismo animal. Os bovinos adultos tem mais resistência que os jovens, mas vermifugando os animais mais velhos mantemos a contaminação do pasto mais controlada. O controle estratégico é o mais recomendado e deve ser feito de acordo com as características de cada região.             

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SUGESTÃO DE PROGRAMA ESTRATÉGICO DE CONTROLE DAS VERMINOSES NA REGIÃO SUL  DE ACORDO COM A CATEGORIA ANIMAL

 CATEGORIA ANIMAL

VERÃO

OUTONO

INVERNO

PRIMAVERA

DEZ

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AGO

SET

OUT

NOV

GADO DE CRIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENGORDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DESMAME ATÉ OS DOIS ANOS

PROGRAMA A

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PROGRAMA B

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     

 

Obs: Os animais de engorda deverão ser vermifugados ao entrarem nas pastagens novas, de inverno ou de verão, ou se forem confinados.

Os animais adultos desenvolvem uma certa resistência aos parasitos ocorrendo um equilíbrio na relação hospedeiro-parasito, sendo limitado o número de ovos eliminados pelos vermes adultos. Muitos não controlam essa categoria animal, mas devemos fazer algumas considerações.

 No caso de doenças que debilitem o animal esse equilíbrio é quebrado e podem aparecer os sintomas da verminose.

 Após invernos rigorosos, o animal está debilitado e as  fêmeas gestantes, principalmente de primeira cria,  apresentam queda na resistência imunológica um pouco antes do parto.

No caso de pastoreio contínuo, a vermifugação dos animais adultos é indicado, com produtos de boa  qualidade, com ação larvicida, para diminuir a carga parasitária.

                Se é adotado a técnica de desmame precoce na propriedade, os terneiros desmamados deverão ter uma tabela de vermifugação à parte, com vermifugações mais freqüentes.

                Nos animais até dois anos os prejuízos são maiores, por isso as vermifugações são mais freqüentes.

                A Embrapa Pecuária Sul preconiza um programa de controle estratégico com 4 vermifugações anuais, totalizando 8 vermifugações até o animal completar dois anos (Programa B).

                Após dois anos de controle e de um programa de controle estratégico e tático, numa propriedade rural em Alegrete, com três vermifugação anuais (Programa A) também obtivemos bons resultados no controle da verminose.

 O programa A  abrange uma vermifugação no final de outono que coincide com o desmame. Uma  na primavera quando ocorre o pico populacional de larvas infectantes e os animais estão mais debilitados pelo inverno. Outra no período seco do ano, quando o clima é desfavorável às formas de vida livre, pois teremos  os animais eliminando poucos ovos , permanecendo baixa a carga parasitária no pasto quando chegar o período de maior viabilidade dessa forma de vida. 

       

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