Na lida do campo, o discurso bonito não resiste à primeira estiagem, ao primeiro erro de manejo ou a planilha que fecha no vermelho. Liderar no agronegócio não é para quem quer ser aplaudido. É para quem aguenta o tranco.
Tenho visto uma enxurrada de palestras sobre liderança: conceitos importados, frases feitas, slides com palavras como resiliência, protagonismo, inovação, muitas vezes proferidas por quem viveu mais a liderança na teoria do que na prática. Tudo isso pode ser útil, desde que não esconda o essencial: a liderança que o agro precisa é aquela que encara a realidade, que assume o peso das decisões, que sabe a hora de avançar e, mais ainda, a hora de recuar.
A provocação que lancei com as 10 Perguntas Básicas para quem pretende ser um líder não saiu de livros bonitos ou teorias de cursos ou dos bancos universitários. Nasceu do trabalho dentro das propriedades rurais. Da lida diária com equipe pequena e orçamento apertado. Das decisões difíceis no galpão, na varanda da casa da fazenda ou no final do dia, quando o cansaço emocional pesa e ainda assim é preciso decidir. Veio das madrugadas em claro com risco de inundação ou da seca que persiste, da frustração ao ver o preço cair de repente, da parcela do banco que vai vencer e, também, de ter ouvido por anos produtores rurais, nas inúmeras reuniões que participei em sindicatos, cooperativas, associações e manifestações.
A diferença entre liderar pessoas e agradar plateias
Liderar é, muitas vezes, tomar decisões que ninguém quer tomar, e depois segurar as consequências. É admitir erros, não importa se seus ou da equipe. É reconhecer que, no agro, o tempo da natureza não obedece ao cronograma da gestão.
É de ter que tomar decisões, na maioria das vezes sozinho, que podem levar o negócio ao endividamento eterno.
É comum ver gestores que adoram ser chamados de líderes, mas não suportam ser criticados, contrariados ou expostos. Outros hesitam em cobrar desempenho de um parente que trabalha na empresa, ou preferem ser “populares” a ser justos. Esses perfis até funcionam em tempos de bonança, mas desmoronam nas crises, e o agro, como sabemos, tem sempre uma crise no horizonte.
Falo com quem está começando agora, com a experiência de quem já trilhou algumas dessas estradas. São mais de 40 anos atuando com gestão e liderança fora e dentro do Agro, lidando com gente, com mercado, com imprevistos e sempre aprendendo. E, talvez por isso, me preocupo ao ver o quanto se fala sobre liderança sem que se tenha vivido, de fato, a responsabilidade de liderar. A diferença entre falar sobre e viver a liderança é o que separa o discurso da transformação real.
É por isso que hoje dedico parte do meu tempo à mentoria de negócios e carreiras no agronegócio. Para ajudar quem quer liderar de verdade – produtores, herdeiros, gestores e profissionais do setor – com os pés no chão e a cabeça no lugar, porque no campo, como na vida, liderança não é palco: é prática, estudo e aprendizado, exigindo muito mais que boas intenções.
Liderança de verdade começa com perguntas difíceis
As dez perguntas que proponho servem como um filtro. Um verdadeiro teste de humildade e preparo. Entre elas:
- Você está disposto a demitir um amigo?
- Você aguenta receber críticas sem revidar?
- Está preparado para fazer o que ninguém quer fazer porque precisa ser feito?
Essas não são perguntas para enfeitar apresentações. São para serem encaradas no espelho. Porque, quem não consegue respondê-las com honestidade, dificilmente sustentará uma liderança respeitada no médio e longo prazo.
O agro precisa de líderes com coerência
A liderança rural exige coerência. Exige presença. Exige a capacidade de sustentar a pressão entre o que é necessário fazer e o que é possível fazer. E, acima de tudo, exige responsabilidade: decidir e bancar a decisão.
A figura do “líder celebridade” que inspira com frases bonitas pode até ser útil em determinados momentos. Mas o campo precisa mesmo é de líderes que saibam agir quando a chuva não vem, o preço cai ou a equipe trava. Liderança no agro se prova no silêncio, não nos holofotes.
Meu conselho como mentor: liderança é caminho.
Se você atua no agronegócio e deseja construir uma liderança sólida, entenda: a verdadeira liderança é um processo contínuo, que se revela na lida diária da gestão, seja de uma propriedade rural, de uma agroindústria ou de uma equipe no campo. Envolve escuta ativa, coragem para decidir sob pressão e humildade para ajustar o rumo quando necessário.
Por isso, antes de querer liderar os outros, aprenda a liderar a si mesmo. O agro não espera perfeição, mas exige verdade.
Ninguém precisa caminhar sozinho para liderar de verdade.
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Me escreva. Se quiser trocar experiências para evoluir como líder, estou aqui para caminhar ao seu lado nessa construção, com consciência e resultado!
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17/07/2025