Uma das contradições mais curiosas, que nunca entendi no ambiente empresarial brasileiro, está na forma como muitos empresários percebem (ou ignoram) o trabalho de promoção das exportações realizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). A agência foi criada em 1998, a partir de um “braço” do Sebrae Nacional, cuja missão é promover exportações, atrair investimentos estrangeiros e promover a internacionalização das empresas.
Ao longo dos anos, a agência construiu uma sólida reputação, sendo presença constante em eventos internacionais, campanhas de imagem do Brasil no exterior e rodadas de negócios — sempre conduzida por um quadro técnico altamente qualificado. Um trabalho eficiente e reconhecido. Mas há um detalhe incômodo que quase nunca é mencionado: quem banca tudo isso são as próprias empresas brasileiras.
Ao contrário do que muitos pensam, o orçamento da ApexBrasil não vem diretamente do governo federal.
Seu orçamento é composto essencialmente por duas fontes: recursos da contribuição compulsória de 0,3% sobre a folha de pagamento das empresas brasileiras, conforme definido pela Lei nº 8.029/1990. Essa contribuição alimenta o orçamento do Sebrae, que por sua vez repassa 12,5% de sua receita à ApexBrasil. Além, é claro, de convênios firmados entre a agência e o Sebrae, que preveem repasses adicionais de recursos para ações específicas voltadas à internacionalização de empresas, especialmente micro e pequenas. Esses convênios são frequentemente celebrados com cifras de centenas de milhões de reais — oriundos da mesma base: o bolso dos empresários.
É uma estrutura de financiamento público, sim — mas paga pelas empresas, e não pelos cofres públicos.
Ou seja: os empresários contribuem todos os meses para sustentar a ApexBrasil, e, ironicamente, muitos não sabem disso, ou fingem não saber ou, ainda pior, tratam a agência como um “presente do governo”, frequentam eventos cheios de simbolismos políticos, assistem a discursos que promovem mais as figuras públicas do que os setores produtivos, e aplaudem, enquanto a agência é usada como palco de promoção política, com o presidente, ministros e aliados políticos transformando ações técnicas em peças de marketing governamental.
Essa distorção, no meu ponto de vista, gera um problema ético e estratégico. Os recursos não são um “presente do governo” ao empresariado. São capital do setor privado, repassado compulsoriamente ao Estado para que seja usado com finalidade clara: internacionalizar a economia brasileira e abrir mercados para quem produz. Quando esse dinheiro é manipulado para fortalecer narrativas políticas ou reforçar imagens públicas, o setor empresarial está não só sendo ignorado — está sendo usado.
A ApexBrasil é um instrumento poderoso — mas não pode ser capturada pela agenda política. O intuito desse artigo é lembrar que a ApexBrasil não é uma agência de governo — é uma agência de Estado financiada pelo setor produtivo. Empresários precisam exigir transparência, critérios técnicos de investimento, foco em resultados e menos — muito menos — marketing político, em vez de se comportarem como beneficiários de favores, afinal, são eles os legítimos financiadores de uma política pública que existe para servir ao desenvolvimento do país — e não à vaidade de autoridades de plantão.
No fim das contas, o dinheiro é seu. Mas quem está fazendo a festa — e aparecendo na foto — é o governo.
Autor: Fernando Lopa
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10/06/2025