Pecuarista Vende Boi ou Carne?

A recente partida do navio NADA, o maior boiadeiro do mundo, transportando mais de 20 mil bovinos do Brasil para a Turquia, traz uma discussão estratégica dentro da pecuária nacional: e afinal, o pecuarista vende boi ou vende carne? Quem realmente está ganhando com essa cadeia produtiva?

O que vou falar aqui vai fazer muita gente torcer o nariz mas, o pecuarista, na maioria dos casos, vende o boi, quem vende carne é o frigorífico. Ele cuida da cria, da recria e da engorda do animal ao longo de anos, investe em pastagem, genética, sanidade e manejo. No entanto, ao final do ciclo produtivo, entrega o animal para o frigorífico, que realiza o abate, o processamento e a comercialização da carne — tanto no mercado interno quanto para exportação.

Essa lógica cria um desequilíbrio econômico. Enquanto o pecuarista assume grande parte dos riscos e custos da produção, os frigoríficos e varejo concentram a maior parte das margens de lucro da comercialização do animal. A diferença entre o valor pago pelo boi gordo e o preço da carne vendida ao consumidor, ou exportada com valor agregado, é significativa. Isso representa, na prática, uma perda de renda para quem está na base produtiva.

 

A Exportação de Gado Vivo: Oportunidade de Equilíbrio

A exportação de gado vivo surge como uma alternativa para equilibrar essa balança. A operação realizada com o navio NADA — fato explicado no artigo “Produzir o que o Mercado Quer: Uma Necessidade ou Armadilha para Pecuaristas” — mostra que existe demanda internacional direta pelo boi brasileiro. E, nesse tipo de negócio, o pecuarista pode negociar com margens melhores, já que o animal, produto produzido pelo pecuarista, é negociado diretamente por ele.

Segundo dados da Scot Consultoria (clique e leia esse importante artigo), o Brasil exportou 236,4 mil cabeças de gado vivo só no primeiro trimestre de 2025, e a expectativa é alcançar 1,5 milhão até o fim do ano. A Turquia, além de importar animais para abate, agora também compra bovinos vivos com foco em reprodução, o que valoriza ainda mais a genética brasileira.

Conclusão

A venda de animais para abate é fator estruturante e importantíssima para a manutenção da cadeia agropecuária, é o que faz a roda girar, garantindo a segurança alimentar do país, além de, agregar valor à cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, gera empregos e renda. Porém, enquanto o pecuarista seguir vendendo boi somente para abate não buscando outras alternativas para vender o produto que produz, ele continuará a ser o elo com menor margem de lucro, ficando ao sabor dos preços dos grandes frigoríficos exportadores e muitas vezes operarão no prejuízo.

A venda de animais para abate é fundamental para sustentar a cadeia agropecuária, movimentando a economia rural, gerando emprego, renda e contribuindo para a segurança alimentar do país, portanto o pecuarista deve zelar pela sua manutenção e fortalecimento.

A exportação de gado vivo aparece como uma válvula de escape e uma chance real de melhorar a renda, um mercado complementar e não rival ao de carnes – até porque a quantidade de animais exportada é infinitamente inferior a quantidade abatida no Brasil – capaz de melhorar a rentabilidade e a sustentabilidade no negócio, principalmente de pequenos e médios pecuaristas, além de ser uma grande ferramenta facilitadora do manejo dessas propriedades, já que os animais podem ser vendidos em diversas fases do seu crescimento sem precisarem estar “acabados” para o abate.

O desafio, agora, é garantir infraestrutura, logística e políticas que fortaleçam esse tipo de comércio — fazendo com que o pecuarista brasileiro, seja além do grande fornecedor da matéria prima que alimenta os mercados globais, também melhor remunerado por alimentar milhões, garantindo sua sobrevivência e a melhor distribuição de renda no setor.

Autor: Ferando Lopa
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12/05/2025

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